Quem já trabalhou em escolas, com crianças e famílias, e/ou sistemas de educação de forma geral sabe que muitas vezes nos deparamos com dificuldades de aprendizagem, problemas de comportamento na escola e/ou fora dela, crianças hiperativas, opositoras, agressivas ou apáticas, doenças de repetição, déficit cognitivo, transtornos mentais, distúrbios do sono, entre outras coisas.
A escola, na maioria das vezes, é o lugar onde a criança encontra espaço para manifestar as dificuldades que vivencia.
As famílias, o sistema público e a sociedade em geral buscam soluções e o psicólogo se vê frente à necessidade de explicar e buscar soluções que vão exigir mudanças na postura e nas atitudes dos adultos e dos ambientes que cercam a criança.
Nesse fim de semana, fazendo uma atualização maravilhosa com a neurocientista, dra. Regina Lucia Nogueira, percebi com alegria que a ciência caminha na direção de ajudar nessa explicação, por meio de imagens, estudos longitudinais e da observação das conseqüências da violência, como por exemplo, da guerra.
Estou falando do TRAUMA. Palavra extremamente antiga, que ouvimos desde antes de Cristo e que se grafa de forma muito semelhante em diversas línguas, entretanto, tão difícil de entender.
Se compararmos a criança a uma árvore e pensarmos em suas raízes como o período pré-natal, o momento do nascimento ao aparecimento do broto fora da terra e assim por diante, fica fácil visualizar que se, desde o seu plantio ou a concepção do bebe, essa plantinha/bebe sofre um ferimento, todo o seu desenvolvimento poderá ficar alterado e que quanto mais jovem for a planta, mais delicada e menos formada estará para ter estrutura e suportar a ação recebida.
Esses traumas modificam o desenvolvimento do sistema nervoso da criança e, quanto mais precoces, maiores poderão ser seus efeitos no desenvolvimento da criança até a idade adulta.
Outra coisa extremamente importante e que agrava o problema, é que uma criança não tem como se defender das ações dos adultos ao seu redor. Ela não tem como fugir ou enfrentar o adulto. É desigual. Então ela tem que sobreviver ali, sujeitando-se aos maus tratos recebidos e permanecendo ali. E encontrará ou desenvolverá defesas para isto. O que sabemos com certeza é que estes são fatores de risco que aumentam a probabilidade do impacto deletério no seu desenvolvimento neurológico. E que farão dessa criança, muitas vezes, os adultos agressivos ou depressivos, ou adictos (entre outros males), de depois.
O que chega até nós a respeito destas crianças, são os sintomas diagnosticados, muitas vezes confundidos com outros quadros neurológicos ou psiquiátricos, algumas vezes com indicação de medicação, mas nem sempre associados ao trauma, aos maus tratos recebidos pela criança.
Esses sintomas que também aparecem nos adultos são muitas vezes carregados desde a infância e poderão afetar toda sua vida a partir do fato ocorrido, desde sua saúde física e mental, suas relações familiares, sua capacidade produtiva e toda relação com a sociedade.
O que vemos, muitas vezes, é que o agredido se torna um agressor.
Precisamos cuidar das nossas crianças. Amá-las e educá-las.
Se você é um pai ou mãe e está encontrando dificuldades, procure ajuda.
Texto escrito por Sandra Colaiori
Psicologa Clínica e Psicoterapeuta