A necessidade de rever hábitos
Tem sido muito comum as pessoas falarem sobre a sensação de impotência e por vezes medo e paralisia diante da pandemia e seus aspectos limitadores de isolamento social. Qual a chave para mudarmos essa sensação e dar o passo seguinte?
Além de todos os detalhes que estão em estudo que tratam do prazer que podemos encontrar nos relacionamentos sociais, da falta que estes nos fazem, de como nossos cérebros reagem diante de tal privação e na aparente falta de bom senso como resposta “desesperada” à privação de contato social, temos a questão de hábito.
Estamos habituados a nos distrair com o que há fora, com o material, com o supérfluo, o movimento do mundo. Não costumamos estar em silêncio, conosco. Temos dificuldade em estarmos a sós. E nos sentimos ainda pior.
O que fazer então com o tempo, como dividir hora de trabalho e estudo e hora de estar em família, como aproveitar para estar com a família, aprofundar as conversas e a intimidade, educar os filhos, rir juntos, ter tempo para ter as ideias criativas que precisam de espaço e de relaxamento para surgir; o estar consigo mesmo, no silêncio, na oração para entrar em contato com o todo, com o Self profundo e desta forma perceber que somos todos Um?
A mídia está cheia de “engrandecimento” dos problemas e dos fatos negativos.
O cérebro, mais especificamente o cérebro pré-frontal, que é responsável pelo nosso planejamento, tem uma conexão direta com o cérebro emocional e subcortical. Ou seja, se você enaltece problemas, consequentemente planeja e atrai esses problemas, por uma questão cerebral mesmo. E ele foi modelado para garantir a nossa sobrevivência. Então precisamos rever hábitos.
No caso específico da pandemia da Covid 19, para manter minimamente o equilíbrio, precisamos reconhecer quais são os nossos limites e até onde a gente consegue ir, estar com o outro em segurança para mim e para o outro. Reconhecer que a gente não tem o controle da vida e das formas de interagir com o mundo. Pelo contrário, as grandes tragédias e pandemias nos confrontam o tempo todo com o potencial da nossa própria morte e também a morte de nossos entes queridos.
Isso requer uma ressignificação da nossa forma de viver no mundo. Mais empatia, despertar para o que realmente importa, que é essencial, que são as relações humanas, o carinho, o cuidado consigo e com o outro. Do contrário, a gente só se conecta com a dor daquilo que foi perdido. E vem a sensação de impotência.
Texto escrito por Sandra Colaiori
Psicologa Clínica e Psicoterapeuta